"O utopismo abstrato da Revolução Francesa, que num choque de realidade acabou levando a resultados tão paradoxais quanto o terror, a ditadura napoleônica e a restauração monárquica, foi antecedido de pelo menos meio século de linguagem abstratista, forçada, artificial e artificiosa, que sufocava a experiência direta sob toneladas de construções idealísticas sem pé nem cabeça. O processo foi descrito e analisado com muita acuidade por Hyppolite Taine em Les Origines de la France Contemporaine (6 vols, 1888-1894), uma das obras históricas mais notáveis de todos os tempos."
Da fantasia deprimente à realidade temível (http://www.olavodecarvalho.org/semana/060911dc.html)"Se você ainda se surpreende ante a pressa indecente com que neste país os empresários se atiram aos braços de um partido que não esconde seu propósito de exterminá-los como classe, é porque está atrasado em pelo menos dois séculos. Fenômenos semelhantes já foram observados e bem explicados desde o tempo da Revolução Francesa, e terminam sempre do mesmo modo: com a extinção da classe.
Leia o seguinte parágrafo:
“Enquanto a ordem permanece, a propriedade tem influência superior à daqueles que podem querer violar a paz pública; mas, quando a lei e a ordem estão em grande parte destruídas, os ricos são sempre demasiado inclinados a buscar na submissão, ou na mudança de partido, os meios de proteger-se a si mesmos e às suas fortunas. A propriedade, que nos tempos normais faz corajosos os seus detentores, torna-se, nos tempos de perigo iminente, a causa de sua covardia egoísta.”
Sir Walter Scott, que a maioria só conhece como romancista mas que foi também excelente historiador, escreveu isso na sua monumental Life of Napoleon Buonaparte, Emperor of the French, with A Preliminary View of the French Revolution (uso a edição americana, Philadelphia, 1827, vol. I, p. 116). É um livro cheio de defeitos, compreensíveis numa primeira tentativa de sintetizar tamanha massa de documentos -- talvez a maior já examinada até então por qualquer historiador -- sobre um passado ainda recente. Mas continua um clássico e, se falha aqui e ali na reconstituição dos acontecimentos (Sainte-Beuve apontou-lhe erros graúdos nas Causeries du Lundi), sua melhor parte reside justamente nas observações de psicologia.
Observações similares encontram-se em Origines de la France Contemporaine, de Hippolyte Taine, para o meu gosto o melhor livro de História que já se escreveu neste mundo. As idéias revolucionárias não se espalham pelo povo antes de ter ganho a adesão ou pelo menos a cumplicidade da “classe dominante”. Antonio Gramsci deu receitas precisas de como apressar o suicídio coletivo dos ricos. Em nenhum outro lugar foram aplicadas com tanto sucesso como no Brasil."
Duas notas de rodapé (http://www.olavodecarvalho.org/semana/01122003zh.htm)"Hyppolite Taine conta que, aos 21 anos, vendo-se eleitor, percebeu que nada sabia do que era bom ou mau para a França nem das ideologias em disputa na eleição. Absteve-se de votar e começou a estudar o país. Décadas depois, vieram à luz os cinco volumes das Origines de la France Contemporaine (1875), um monumento da ciência histórica e um dos livros mais esclarecedores de todos os tempos. O jovem Taine não votou, mas o Taine maduro ajudou muitas gerações, na França e fora dela, a votar com mais seriedade e conhecimento de causa, sem deixar-se iludir pelas falsas alternativas da propaganda imediata. Saber primeiro para julgar depois é o dever número um do homem responsável - dever que o voto obrigatório, sob a escusa de ensinar, força a desaprender."
Geração perdida (http://www.olavodecarvalho.org/semana/perdida.htm)"As grandes crises e revoluções fazem-se sempre antecipar, na esfera lingüística, por uma simplificação redutiva que rebaixa a comunicação a uma troca de estimulações padronizadas. Hyppolite Taine descreve, nas Origines de la France Contemporaine", a longa degradação que foi tornando a língua francesa do século XVIII um sistema de fórmulas prontas, bom para as generalidades da oratória revolucionária, mas no qual não se podia traduzir Dante nem Shakespeare, criar personagens de carne e osso ou expressar uma única impressão viva. Thomas Mann, Jacob Wassermann e sobretudo Karl Kraus observaram análogo declínio na língua alemã do pré-nazismo.""
Miséria lingüística (http://www.olavodecarvalho.org/semana/mlinguistica.htm)