"Embora muitas das escolas paroquiais tivessem maioria de alunos do sexo feminino – numa época em que escrever e ler era tido por coisa indigna dos varões guerreiros –, nenhuma função administrativa se atribuía às mulheres, cujo aprendizado não tinha outra finalidade, enfim, senão o adorno de suas almas e o enriquecimento da cultura doméstica, que se afirma por fim como um esteio vital da tradição cultural e pedagógica européia que hoje se dilui com velocidade apocalíptica. Data daí, por exemplo, a origem remota do costume das leituras em família, em voz alta, após a refeição noturna, costume que se conservará até o século XIX nas principais nações e dará a base mercadológica essencial para a expansão da indústria livreira, na época dos grandes romances. Bastam esses fatos para comprovar, de um lado, o valor autônomo que a Idade Média atribuía à educação; de outro, o peculiar estatuto da mulher medieval, muito distinto do que hoje procura impingir-nos um doentio rancor feminista sob color de ciência histórica. V. George G. Coulton, Medieval Village, Manor and Monastery, New York, Harper & Row, 1960, e Life in the Middle Ages, selected, transl. and annotated by G. G. Coulton, 4 vols. in one, Cambridge, Univ. Press, 1954, bem como, só para períodos posteriores, Régine Pernoud, La Femme au Temps des Cathédrales, Paris, Stock, 1980."
Aviso de Alberto Dines & considerações sobre a universidade (https://olavodecarvalho.org/aviso-de-alberto-dines-consideracoes-sobre-a-universidade/)