Olavo de Carvalho
Surgiu aí a Teoria do Império. Que o Império é conceito fundamental da História do Ocidente. Idéia que logo depois o italiano Antonio Negri cinco anos depois ele publicou, não que ele tenha me copiado, ele jamais soube da minha existência. Provavelmente nem lê me português. Mas ele teve a mesma idéia com cinco anos de atraso, e ele tem o direito de pensar que a idéia é del pois ele não sabe que existiu outro antes.
Automaticamente junto com a Teoria da História veio a Teoria do Poder porque o poder é um instrumento fundamental pelo qual se faz a história.
O que é poder? O poder significa a capacidade de certas pessoas ou grupos têm de determinar a ação dos outros. O poder é fazer alguém fazer alguma coisa.
Note que muitas vezes você não tem poder suficiente nem sob você mesmo. Por exemplo, estes dias que eu peguei a tal da gripe. Gente, eu queria levanta da cama mas eu não conseguia. Estava pesando duas toneladas. Então é o supra-sumo da impotência. Não mando nem em mim mesmo. Não adianta eu mandar o corpo levantar que ele não levanta, e às vezes, você tem a capacidade de determinar num relance a ação de milhões de pessoas. Você imagina, por exemplo, Stálin determinando que o exército ocupasse uma província e matasse não sei quantas pessoas. Quanto tempo levava para ele dar esta ordem? Um minuto. Ele falava um negócio, assinava e pronto.
Então, daí me apareceu outra idéia: que dentro desta Teoria do Poder o bom é que é uma coisa absolutamente imoral e todos os estudiosos de história e ciência política jamais tenham entendido que a diferença de poder entre seres humanos não tem paralelo no mundo animal e que ela é fato diferencial do ser humano.
Quer dizer que você dentro dessa escala sempre tem a diferença que vai da quase onipotência até a total impotência. Mas você imagina o sujeito que esteja preso num campo de concentração sem comida; ele não pode nada. Mas o sujeito que botou ele lá pode quase tudo.
Então a diferença de poder e, às vezes, entre o cidadão comum e o governante, ela é quase de um mortal para um deus.
Não há fenômeno similar no mundo natural. Mas como é que ninguém percebeu isto e todo mundo estranha a diferença de poder como se ela fosse uma anormalidade, mas ela não pode ser uma anormalidade porque ela é a base da história humana. Não existe ação histórica sem uma diferença imensa de poder. Se todos tiverem o mesmo poder, não tem história.
Quer dizer a história é a organização do poder e o exercício do poder.
E parece que os caras nunca pensaram nisso. É um absurdo. Mais ainda. O desconhecimento deste fato tem consequências na ordem política que são uma coisa terrível. Por exemplo, se nós não sabemos que a desigualdade de poder é inerente a constituição da sociedade humana, nós também não sabemos em quanto mais se "aperfeiçoar" esta sociedade, isto é, quanto mais se racionalizar no sentido de Marx Weber, maior será a diferença de poder.
Maior, e não menor.
Se você pega no tempo do homem de Neandertal e você pega um chefe de tribo, quanto poder ele tinha? A diferença entre ele e seus comandados é muito pequena, porque o número dos seus comandados é pequeno. E os meios de ação que ele tem sobre ele, bem, em última análise ele vai ter que ir lá e matá-los pessoalmente. Agora veja os meios de ação a disposição de qualquer governante moderno. Não estou falando de ditadores, estou falando de qualquer governante, até mesmo de países "democráticos".
A diferença é imensurável.
Hoje, por exemplo, o governo pode saber tudo a seu respeito. Ele sabe sua vida econômica, sua vida social, sua vida profissional, seu imposto de renda, sua vida sexual, as amizades que você tem. Tudo! Agora se você tenta investigar lá dentro algo, tem um bloqueio. Então a diferençá de poder também é diferença de informação. Não que a diferença de informação em si, gere poder. Isso é bobagem!
As pessoas dizem "as bases do poder hoje é informação!" Eu digo: "tu tá louco!" Eu tenho informação que não acaba mais e não mando nada. Se pega eu e o Barack Obama, eu sei mil vezes mais que o Obama e no entanto ele manda milhões de vezes mais do que eu. Então não é informação em si. É informação articulada hum negócio chamado: "meios de ação".
Se você não tem meios de ação, você não age. Você não faz nada. Por exemplo, para você saber o que um determinado político, governante vai fazer numa certa época, a primeira coisa que você precisa investigar e: quais são os meios de ação, ou seja, o que ele pode fazer. Porque aquilo que ele não pode fazer, ele não fará. Isto é muito simples, né.
E ta aí uma coisa que praticamente todos os analistas políticos do mundo ignoram. Eles não sabem o que são "meios de ação". Por exemplo: ele acha que pelo sujeito estar no governo, então o governo é um "meio de ação". Não! Antes dele usar o governo como "meio de ação" ele precisa de "meio de ação" para ele mexer no governo. Então ela precisa ter fora do governo uma outra estrutura de poder mediante a qual ele aciona o governo.
Portanto: governos e estados nunca são personagens principais. Eles são uma espécie de cortina de fumaça. Por trás do qual estão os verdadeiros esquemas de poder. Por exemplo, o CFR nos EUA. O CRF pode mais que o governo Americano. Porque? É ele que move o governo Americano. O que ele não quiser o governo Americano não vai fazer. Agora ele vai fazer o que governo Americano quiser? Não!
Então Aristóteles já dizia que numa luta tem um sujeito que move e outro que é movido. Aquele que move o outro, não é movido por aquele, logo este que ganha. Você dá uma porrada no sujeito quem cai é ele. Você fica onde está. Então você alterou a situação dele e ele não alterou a sua. Ou você alterou a dele mais que ele alterou a sua.
Eu digo que na política é exatamente a mesma coisa. Tem aquele que move e aquele que é movido. O que move não é movido. Temos aí todo um critério de ciência política totalmente nova baseada na Teoria do Poder e na Teoria da Desigualdade do Poder etc... Tudo isto foi desenvolvido e foi apresentado no Curso de Ciência Política no Paraná.
Junto com isso dai Teoria do Direito. O Direito como um dos elementos fundamentais do Poder. e depois o Luis Virgílio Dalla-Rosa expôs mais extensivamente na tese dele, que é a exposição da minha tese e não outra coisa.
Junto com isto tem a Teoria da Origem da Autoridade que também expliquei no Paraná.